Olá caro paciente,

    Antes de prosseguirmos no nosso papo quanto à apneia do sono e arritmias cardíacas, gostaria de dar uma breve e única nota aqui referente à minha opinião com relação ao momento que estamos passando. Fomos pegos de surpresa por uma nova cepa de um velho vírus. De fato, as últimas epidemias virais foram geradas por este mesmo vírus (MERS, SARS-Cov-1), tendo como particularidade, desta vez, a elevada transmissibilidade do SARS-Cov-2 através de indivíduos assintomáticos ou muito pouco sintomáticos. A letalidade global da doença gerada pelo SARS-COV-2, a COVID-19, é em torno de 0,5%, havendo aumento para cerca de 15% em indivíduos idosos. 

    Frente à busca incessante e esperada frente à repercussão gerada pela pandemia, iniciou-se a corrida pelo elixir mágico, a droga salvadora. A velocidade de propagação e suas consequências sanitárias, sociais e econômicas pressionaram de certa forma a comunidade científica a dar algum tipo de resposta. Já diria o ditado; a pressa é inimiga da perfeição - ainda mais em se tratando de ciência e medicina. 

    O resultado foi uma série de estudos mal desenhados, interpretados equivocadamente e/ou extrapolados. Para o surgimento de uma droga eficaz, existe uma série de etapas básicas, que partem primeiramente de um racional, ou lógica, por traz do que está sendo testado. Tem que se ter aprovação por comitê de ética, teste em animais, teste em número pequeno de humanos (avaliando-se aqui principalmente a segurança e efeitos colaterais), teste em grande número de humanos e seguimento da população em uso após a comercialização em massa. 

    Claro que estamos em uma situação atípica, onde precisamos de alguma forma agir, mas sempre que esta sequência lógica é quebrada, a medicina retrocede para a era do achismo. "Vou tomar a medicação porque o médico tal disse que é bom", "Vi no instagram que tal pessoa tomou tal coisa e deu certo", "Já está grave mesmo, vai que dá certo", e por aí vai.

    Vivemos na era da medicina baseada em evidências (graças a Deus!), onde a opinião do especialista é o PIOR nível de evidência que se tem, o PIOR. Ainda temos que levar em consideração a palavra "ESPECIALISTA". E aqui vem a pandemia que ocorre em paralelo à pandemia infecciosa, a pandemia de informações, de especialistas, de achismos. 

    Difícil é ser médico hoje em dia e não emitir sua opinião sobre cloroquina, ivermectina, rendesvir e por aí vai, mas temos que ter muita cautela pois fato é que, nesse momento, não existe verdade absoluta nesse sentido. O melhor é filtrarmos bem nossas fontes de conteúdo e interpretar dados e resultados com cautela. Lembrem-se que tudo isso precisa de um fator que é imutável; o tempo.

    Já diria Hipócrates, pai da medicina: "Primum non nocere" (Primeiro, não prejudicar).

     

    Desejo saúde para você que está lendo este post e para toda sua família,  espero que possamos sair dessa como pessoas melhores.


    Forte abraço a todos,


        Dr. Tamer El Andere